quarta-feira, 7 de maio de 2014

Solidão

Num determinado dia de primavera uma moça bateu em minha porta; ao abrir, ela logo disse que se chamava solidão e que gostaria de entrar em minha casa. Assustada, praticamente bati a porta em sua cara e fiquei espiando pela janela para ver quando ela iria embora, demorou mais uns 5 minutos fitando minha porta até que se foi. Notei que havia deixado algo, era uma rosa e uma frase com uns dizeres bonitos; achei estranho e joguei de lado.
Achei que não iria mais me incomodar, mas no outro dia bem cedinho ela bateu em minha porta, como não olhei quem era, abri, e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, fechei novamente a porta em sua cara. Pensei que aquilo não era muito elegante, mas não queria aquela moça ali; novamente uma lembrança, dessa vez era um bombom e outra frase bonita, dessas que te trazem um ânimo para encarar o dia.
A partir de então, todos os dias lá estava ela novamente. Para não atendê-la, olhava pela janela, ela ficava lá por uns 15 minutos sem tocar novamente a campainha, como eu não aparecia, ela ia embora e sempre deixava uma lembrancinha.
Comecei a reparar que era uma moça bonita, com um olhar sereno, carregava sempre um sorriso nos lábios, desses bem discretos, mas não parecia ser tão ruim quanto as pessoas me diziam; assim, todos os dias eu reparava um pouco mais naquela moça e a cada dia que passava meu receio sobre ela ia diminuindo, na verdade ela parecia uma pessoa bem agradável e que não faria mal, até me animava com suas frases todas as manhãs.
Alguns meses depois, antes que ela tocasse a campainha abri a porta e a convidei para entrar; ela abriu um sorriso doce e entrou, ofereci um café e começamos a conversar; ela contou que sabia que eu ficava todos os dias a olhando pela janela e que sabia que uma hora ou outra eu iria perceber que ela não poderia fazer mal.
Percebi que já estava em sua companhia desde aquele dia de primavera, que não aceitá-la só me trouxe mais sofrimento e que aqueles momentos em que eu a olhava de longe me traziam certa tranquilidade. Quando deixei que ela entrasse, tudo mudou, percebi que ela seria minha melhor companhia em muitos momentos; ela, com toda sua sabedoria ia me mostrando a cada dia algumas coisas que eu mesma desconhecia em mim, coisas boas e ruins.
Hoje somos amigas, ela já não vem mais todos os dias, mas quando aparece a recebo com o maior carinho e cuidado possíveis, pois amizade é troca, e quanto mais a recebo bem, mais ela me trata bem e, assim, vou cuidando melhor de mim...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

...

Essa tal de vida, a qual insistimos em pensar que temos total controle sobre ela, como se pudéssemos até decidir por quanto tempo permanecemos por aqui. Quando nos deparamos com o oposto, em suas diversas possibilidades, mas principalmente quando damos de cara com a morte, tão fria, calculista, devastadora, é possível perceber o quão efêmera a vida é, o quanto, na realidade, ela nos escapa. Nesse momento tudo muda, é como se pudéssemos ver as coisas de um jeito diferente, aqueles clichês nos arrebatam e nos mostram que são mais verdadeiros do que realmente nos parecem; cito Shakespeare que já nos dizia isso há tanto tempo: "Sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos!"
E a fé, esta se modifica de alguma forma, se renova, pois pensamos "como será possível que a vida seja apenas isto?" Procuro por Kardec neste momento, pois pensar como ele nos propõe traz no mínimo um conforto, mas acredito que principalmente, sentido, ou seja, que esta é só uma passagem, uma forma de evoluirmos, uma parte de um todo muito maior.

sábado, 25 de maio de 2013

Pássaros engaiolados

A vida me trouxe exatamente onde estou, mas de um jeito um tanto torto. É estranho quando começamos a perceber algumas coisas e nos dar conta de tantas outras.
Pássaros engaiolados, almas livres e completamente presas. Agora eu consigo entender porque sempre detestei vê-los nessa situação: "lugar de pássaro é na natureza, livre", sempre disse. Agora eu consigo compreender porque sempre me senti maior por dentro do que o sou aos olhos dos outros.
Por que prendemos alguém? Porque também fomos presos e assim aprendemos que deve ser feito? Para sentir que temos o controle sobre o outro? Arrisco dizer que o homem engaiolou o pássaro não só por esses motivos, mas também porque não pode voar como ele. Por que "engaiolamos" as pessoas? Talvez para ter a certeza de que elas não alçarão voos maiores do que os nossos; não podemos correr o risco de que alguém encontre um lugar ao sol melhor do que o meu ou melhor do que eu.
Temos que tomar cuidado com o que fazemos, pois acredito que em um determinado momento o próprio pássaro começa a acreditar que aquela é a sua natureza: "eu não sou capaz de voar", ele deve pensar...
mas acho que agora eu já consigo pelo menos abrir a portinha da minha gaiola...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Mais do que os olhos possam ver

Dentro de mim há inquietude,
minha alma é vento, é rio, que não consegue se manter parado por muito tempo em um mesmo lugar
dentro de mim há movimento,
não consigo sobreviver ao tédio e à mesmisse, me mata aos poucos

Tenho a alma livre em um corpo que é obrigado à rotina
não caibo dentro de mim
sempre digo: por fora aparento calma, mas por dentro sou turbilhão

sábado, 14 de julho de 2012

Sempre em frente

E minha força vem das dificuldades;
minhas esperanças, das desilusões;
meu sorriso é resposta a todas as tristezas, todas as lágrimas que derramei;

Posso cair, mas logo me recupero,
ergo minha cabeça e me regenero...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Em tão pouco, muito

Sabe o minuto?
Você já parou para pensar sobre ele, em quantas coisas já foram sentidas nesse curto espaço de tempo?
Ele faz parte das minhas recordações mais belas e dos momentos mais terríveis.

Ele faz parte daqueles momentos em que o abraço não queria se desfazer ou em que o amor parecia intensamente, completamente, maravilhosamente verdadeiro e forte; também de momentos em que me sentia nas nuvens e tudo perdia o sentido...
Quantas vezes olhei para o céu por um minuto em uma noite estrelada e era como estivesse mais perto de Deus ou dessa força maior existente e então, por pelo menos esse tempo, me senti mais viva...
Quantos minutos demoraram a passar, quantos minutos de aflição, quantos minutos de fé, em que se decidia não mais perder as esperanças.

Um "talvez poeta" um dia me disse que o verdadeiro poeta é aquele que consegue passar para o papel as sensações vividas nesse pequeno espaço de tempo
Não apenas os poetas, seria maravilhoso se déssemos mais atenção a ele... a felicidade muitas vezes se encontra aí, em apenas um minuto...

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Hari Om

Coluna ereta, topo da cabeça para o teto, o coração aberto,
a respiração ofegante aos poucos trocada pela profunda e tranquila,
à medida que a respiração se aprofunda, o corpo também tranquiliza,
mas não só o físico, também os pensamentos.

Silêncio...

exterior, mas principalmente interior...

Silêncio...

fazendo uso de uma postura de desapego, tudo perde o sentido,
pensamentos ruins, ou dor, até mesmo bons sentimentos...

Só a paz... ela toma conta de todo o seu corpo.
Como uma energia, uma energia vibrante,
a qual neste momento, surpreendentemente, você também não se apega.
Só se sente verdadeiramente após o corpo estar novamente desperto,
o qual também havia sido em parte esquecido... o corpo físico.
E então a paz, uma sensação de plenitude, de tranquilidade...
Só isso faz sentido... isso faz bem...